Campos Asfódelos

-Sophie nós podemos... Podemos entregar uma pérola a ele... - eu disse devagar. Poderíamos? Eu não saberia dizer. Não havia pérolas o bastante. E eu começava a perceber também que não havia como fugir da morte. Ela sempre iria nos alcançar.
Mas eu notava o quanto ele era importante para ela. E não podia deixar que ela ficasse assim.
Eu senti algo como uma brisa passar pelo meu corpo. Quando me virei vi minha mãe, pálida como a morte, com um longo vestido esvoaçante, olhando para mim com ar de incredulidade, como se não acreditasse que eu realmente estava aqui para buscá-la. Ela esboçou um sorriso, mas não parecia natural.
-Foi muita coragem sua, meu filho. - ela disse docemente - Mas eu não posso voltar. Não posso fugir do meu destino, meu amor.
Ela tocou meu rosto por alguns segundos e em seguida colocou uma pérola em minha mão.
Olhei para ela confuso. Aquela pérola não era minha. Eu estava com duas, uma para mim, uma para ela. Sophie estava com a dela e Dominique também... Oh. Dominique.
Eu senti como se tivesse levado um murro no estomago, como se tudo que eu tivesse comido em toda minha vida estivesse querendo voltar.
-Onde ela está? - perguntei com certo panico na voz. -Onde está Dominique?
-Ela se foi. - respondeu minha mãe pacificamente. -Nenhum de vocês pode tirá-la daqui agora. Por favor, peço que vão embora. Não há como resolver o que aconteceu comigo, ou com seu irmão... Ou mesmo com a sua amiga.
O resto da sua frase foi abafada. Eu não queria ouvir, não podia ouvir. Depois de tanto tempo querendo tirá-la daqui... Ela estava conformada com sua morte. E quanto a Dominique? Ela que somente estava tentando ajudar... Não, não podia ser.
-DOMINIQUE! - gritei. -DOMINIQUE!
Eu olhei ao redor e corri tentando encontrá-la. Tive a impressão de que me mantive em movimento por horas e horas, mas não consegui vê-la. Ela não estava aqui... Não estava entre essas almas. Ela estava perdida, estava morta, provavelmente esperando seu julgamento. Por causa da minha missão estupida Dominique se fora...
A culpa parecia mais densa do que nunca e até respirar se tornava difícil.